Uma dessas palavras nuas chama-se Mara Araujo

Novos sonhos

Acordo meio cansada, desamparada, com braços compridos e preguiçosos. Organicamente estranha, diferente, curiosa, analisando cada um dos sentidos numa loucura que disfarço sempre. Querendo saber quantas horas, dias, segundos tenho de sobra, se já vou morrer... Sinto que sim! Ando assim, confusa e submersa entre papeis, livros e teias. Ligo a TV, Assisto um desenho, uma historia de superação, de poderes extra-secretos... Preguiçosa sem sair da cama puxo o fio da cortina e o sol cai, brilhando de vida em cima dos lençóis, invade o quarto dando risada e sai me empurrando como dono da casa. Sento, levanto, ando, escovo os dentes e penso... Quem esse sol brilhante pensa que é, pra me fazer sorrir nessa hora que penso que morro? Acho que...Talvez vá à praia, sim, talvez não morra nas próximas duas horas e quem sabe enquanto eu esteja me arrumando caia uma chuva daquelas... Biquíni, filtro solar, canga, livros, caneta, caderno e o sol que me espia o tempo todo, nem se mexe, não arreda pé... Nada de chuva! Atravesso a rua sem olhar para os lados, nem pra ninguém, alugo cadeira, barraca pra esconder o sol e nada... De repente o mar me confunde o mergulho, com sua profundidade, com suas águas de transparentes safiras, seus poderes extra-secretos, seus braços de sereias, de mensagens, de pérolas e aconchego, salgado como o meu suor, transparente como a minha historia, e percebo o absurdo de fechar os olhos, sair me escondendo atrás das casas, das portas, do medo, do imposto, do herdado, medindo passos e instantes... E encaro o sol e o meu destino. Mergulho indecente sem regra e nem pecado no ventre profundo do mar a fecundar novos sonhos, historias de magia, superação, vida, sorrisos, cores e asas