Uma dessas palavras nuas chama-se Mara Araujo

Um Banquete de Lobos

Não basta o que escrevo! Não basta o que digo! Você quer mais, quer a mim como um banquete, sem limite, exposta, orgânica, uterina. Com sua sede imensa quer o avesso, o oculto, a vida, a alma...
Quer entranhas, vísceras e o sangue a escorrer pelos pés da casa, pela porta da rua... Quer o exposto diante dos loucos selvagens que comerão minha carne, famintos.
O meu sangue escorrerá pela boca de todas as pessoas que sentem fome. Não basta o que escrevo... E sinto uma sensação de morte, o peito arfando diante dos seus olhos como platéia, que exigem mais, e mais e mais... E desisto, cansada e entregue, diante dos seus olhos que devoram cada pedaço meu. Risco um talho profundo, largo, exponho entranhas onde entram tuas mãos como garras, dores e lacerações, em meio a um odor de terra e mato molhado que me exala do corpo... E vejo a vida e a morte oculta que ri de mim... Vejo tudo o que me habita a lhe bater na cara como um murro forte, um raio que queima como lavra... cúmplice de toda a loucura, de todo um passado, coberto de todas as eras, de todas as historias, de todas as lendas... Perplexo, com a capacidade de me expor a cada desejo seu. Não é isso que você queria, a minha alma.... Ela é sua... Devore-a!