... É só clicar no titulo do Blog, ( Em casa de poeta, o importante é sonhar!) que ele disponibiliza todo o conteúdo. Eu, acho que vale a pena. Acho também que a troca seria perfeita se deixassem um comentário, eu adoraria! Mara Araujo





sexta-feira, 15 de janeiro de 2010


E a vida cabia...


Às vezes o silencio compromete mais que palavras... Converso, falo, dou risada, orgulhosa, realizada, cedo um pouco e, perguntam o que fiz... Entendo tudo muito rápido e respondo mais rápido ainda... Eu, não fiz, vivi! Mas claro, não era essa a resposta que esperavam, todo mundo vive, ao menos os que ainda não morreram. Insistem.... Qual a sua formação? Respondo... Nenhuma! Um espanto de silêncio, seguido de exclamações... Como assim, você não concluiu nem um curso, faculdade? ... Não, não conclui... Ainda. E guardo as palavras atrás do sorriso e brinco com alguma coisa em meio a olhares trocados, espanto, admiração, desentendimento e sei lá mais o que. Me sinto uma alienígena caída de outras luas, toda verde e cheia de antenas que vibram. Minha Vontade era mesmo de falar que as descobertas mais fundamentais na minha vida, como caráter, visão de um todo como pessoa, são muito primárias. Foi ali que aprendi a conviver, aceitar, transpor ou não as diferenças, a me relacionar e a ter a plena noção da minha vida, dentro de uma realidade social um tanto agressiva. O sul realismo latente das diferenças. O mais importante ninguém nunca pergunta, mas... Descobri ali que era forte e que sobreviveria, numa sabedoria estranha, onde já convivia literalmente com, aranhas, formigas, lagartixas, margarida, dália e girassóis. Com montanhas e serras de um verde atapetado e brilhante de sol, onde voava a imaginação. Além, muito além daquele meu mundo do lado de lá, onde as cigarras ainda cantavam, a desprender pássaros e fantasias dos sonhos. Era intensa de perguntas, de análises, de sentimentos que não sabia de onde vinham, das revistas dos livros todos e quaisquer que já lia, que talvez aos oito anos me dessem uma percepção além do normal. Colégio público, classe mista e toda uma indisciplina natural de sons, acessos de risos, deboche, curiosidade e brincadeiras. Foi ali que descobri que as crianças são pequenos adultos, meigos, amorosos, pacíficos ou não. Tão já definidos... Que as mudanças são apenas de peso, tamanho e educação. Foi uma época de conhecimento, de aventura e rebeldia.O primeiro biquíni que nem sei de quem era, maior do que o corpo, escondido debaixo da saia, da blusa da escola e de toda a excitação. Matar a aula, ir nadar num rio de cachoeiras.Todas as linhas do corpo e a vergonha, que não impedia nada. O primeiro beijo... No recreio, escondida... Um roçar de asas, tão casto, tão medroso, nervoso e descobridor. Silencio grave. Um pisar leve que se inicia sobre a influência de Vênus, das fadas, dos sonhos. Mistérios, segredos e vertigens, ondas curtas, ondas médias e uma curva imensa de emoção. A primeira menstruação... A escola, o sangue nas pernas, na saia, a vergonha e a angústia. Descoberta do primeiro grande homem a proteger. O caminho até em casa, o silencio e Eduardo. Onze anos e um caminhar adulto, responsável, sério e protetor, que eu nunca mais esqueceria. A descoberta da minha pureza, e uma castidade que poucos anos depois levei pro altar, cheia de orgulho de não ter sucumbido a tantos argumentos... Eu disse que já era forte... Foram primárias as minhas mais importantes descobertas. Sempre acreditei no poder do cérebro, eu pensava! Sentia-me diferente, me sentia estranha a outras crianças, me sentia velha, instintiva como um bicho. Já inventava. Porque, já existia como hoje toda uma política, um jugo, um domínio pra não te deixar pensar, e eu pensava, quieta num canto eu pensava. E foi primaria minha descoberta dos homens, tão fartos de seitas,de jugos, tabus e discursos. A submissão das mulheres, fracas, medrosas em direções obrigatórias. O poderio dos homens e seus filhos pequenos homens e suas filhas, pequenas e delicadas mulheres.... Sempre quis ser delicada naturalmente, nunca consegui, ou você nasce sendo, ou aprende, convenientemente eu aprendi, nas não levo muito jeito. Sou muito atrapalhada, do tipo que esbarra nos copos e derruba todos. Aceito todas as perguntas, por delicadeza, mudo de assunto e não respondo a muitas por rebeldia. Como sempre, transfiro para o papel alguma fuga, alguma frustração, alguma inquietude, enquanto o ar me analisa nesse desenrolar de lembranças antigas, de fatos e risos barulhentos, onde a vida cabia, num ninho de passarinho, em uma mordida de cana caiana, num gosto de manga madura, e na boca... Roxa de Jamelão

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