Tendências
Ah, pensamentos meus... Porque não envelhecem, e se vão para um canto qualquer da casa me deixando descansar... Todos os sinais, todas as tendências já me batem à porta exigente, exigindo e tecendo tramas. Ah, meu pensamento, lança âncora, encalha como nau velha que é e para, que preciso descer pra fechar algumas portas, pra deixar de desejar, pra deixar de fazer de conta. Não sorrir tanto, porque existe um paradoxo meio agudo em sorrir, enquanto o tempo implacável me gasta os ossos, me lanha a carne, me ofusca a visão, mas não me tira o prazer de viver. Sentir o cheiro das flores nas manhãs enfeitiçadas. Ah, pensamentos meus, fecha as portas da coragem, faça-me descer das estrelas enquanto ainda dá. Porque o tempo me olha as horas me contando as noites, folheando os dias, deslizando prazeres, impaciente de gastar. Ah, pensamentos meus, vai embora, foge pelas ruas das noites escuras, não deixando rastros nem possibilidades, pra que eu não me arrisque a inventar passeios em alto mar, e nem corra o risco de me apaixonar, ardendo de febre num leito de glicínias, margaridas, sempre-vivas e girassóis
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