Preciso agir enquanto é tempo, enquanto é dia e sinto o vento soprar. Improvisar, desprender, soltar todos os fios que se fizeram nós. Parar de ficar andando como quem não quer, com as mãos enfiadas no bolso guardando gestos controlados e aflitos, deixar de ser mais um covarde com medo da vida, de ser um dos escolhidos e das consequências. Preciso ser forte, único, singular, me agigantar nesse mundo de homens, dar à cara a tapa, afundar o passo e deixar escrita uma historia real. Comer frutas ácidas e aprender a cuspir algum mal necessário. Preciso agir enquanto é tempo, mastigar mais devagar, usar cores cintilantes, ser parte de alguma coisa mais consistente, ser algo mais público, disponível. Mutilar toda a fuga em mil pedaços e não ficar chorando historias que não vivi e tentativas vãs. Aprender a sorrir, a compreender os signos os astros e toda a simbologia dos gestos, ter trunfos e abrir as mãos. Preciso agir largar esse ar inconsequente de duas da tarde e de inadequação diante da vida e da minha própria anatomia, dessa vitalidade em declínio porque toda a angustia é sã. Jogar fora pedras, armas e atributos, parar de esperar ações contrárias e de ficar sempre na defensiva do quase fui, quase sorri, quase falei, quase vivi... Sair do comando e gritar envolvido de todas as loucuras que me parecem mais humanas sem me preocupar com promessas, culpas e amanhas, desprender passos e ocupar todo o espaço, tudo o que flutua, porque hoje é o que temos, é o que basta!
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