E restamos nós...
Era uma daquelas mulheres comuns. Parecia que carregava sempre uma expectativa angustiada, um sofrimento, um sonho abandonado. Solitária percorria ruas secundárias até as primeiras luzes, com uma curiosidade impotente. A deformidade nas pernas que a agredia, a vigilância e o rosto sombrio, tentando sempre adivinhar o futuro além de toda a explicação. Antevia cicatrizes, agonia e dores, antevia um futuro. Um fardo indescritível, e cantava, sempre cantava. Vastidão de credos e flagelos a atrair todos os parasitas. Profundezas, gargantas e abismos a invadir seu corpo na imensidão do medo, da vida, dos anos. Alguma coisa a cercava como tormenta, como medo envolvendo-a com garras. Corredores das sombras mortais. Enfrentava a vida como uma teia negra de abandono, que se estica clamando por um Deus invisível. Andava por labirintos como fantasma empurrando a vida como transgressão, como escárnio, como marra... E cantava entoando sempre delírios e canções. Orava como feitiço, com pernas como longos troncos retorcidos de nós. Confusa e pungente na obscuridade das noites eternas. Ratos, baratas e moscas incontáveis reivindicando lugares, empurrando-a de seus espaços. Esgarçaram-se os trapos, sobraram fiapos de força de vontade e ela, se entregou a uma rota planejada de desejo, de partida. Acabou em um dia de sol amortalhado, um dia de violetas. E restamos nós... Tão pequeninos. Garfando a morte dentro de uma inquietação, de um desanimo por tudo aquilo que se teme... Tínhamos uma clareza sobre natural, uns braços compridos, alguns cacos e um cheiro de cinza molhada, que sabíamos que era cheiro de mãe, como a cultivar a ilusão de que não estávamos sós. A ilusão da unidade.
Sonhar, ter fé e acreditar que ainda há esperança, neste país onde a violência, CPIs, impostos, foro privilegiado, e bocas famintas invadem a nossa casa nos jornais do dia dia. Sonhar em meio a legislações obsoletas,desemprego e muita fome. Completa instabilidade social, onde pessoas matam, roubam impunes diante das nossas caras impotentes de medo sem ter a quem recorrer, e lembrei-me de uma frase,"Quando a vida nos violentar pela simples razão de ser, eu me imporei sonhar!" (mara araujo)
... É só clicar no titulo do Blog, ( Em casa de poeta, o importante é sonhar!) que ele disponibiliza todo o conteúdo. Eu, acho que vale a pena. Acho também que a troca seria perfeita se deixassem um comentário, eu adoraria! Mara Araujo
Um comentário:
Parabens Mara .. adoro vir aqui!
Me faz tão bem suas palavras !
Obrigada! Beijo.
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