Chek-in
Fico aqui questionando o tempo todo... Como alguém tão determinada, tão auto-suficiente pode ser tão enrolada. Perdi a hora... Atrasada pro chek-in! Correndo como maluca, costurando aqui e ali, chego! Já disposta a cair de joelhos agarrada a asa do avião. Não foi preciso, um rádio toca pra la, outro fala pra cá e la vou eu me sentindo um marginal. Escoltada por duas comissárias atravesso rápido um imenso corredor de aço gelado; Algemada a mil pensamentos de tragédia anunciada, que agora não dava mais pra evitar. Procuro a poltrona pensando se desliguei o gás, a luz, se fechei as janelas... Não desliguei o celular... E rezo para ninguém me ligar, quando de repente bato com a bolsa na cabeça de alguém, pra quem só falto morrer pedindo perdão já passando a mão na cabeça... Dele! Uma forma de amenizar a dor. Derrubo os óculos, desarrumo o cabelo que o homem muito gentil tenta pegar, tenta ajeitar, se protegendo o quanto pode, enquanto penso... Porque nós mulheres carregamos tanta tralha, já sabendo de antemão que não vamos usar, lei de sobrevivência... Nunca sabemos o que pode acontecer. Enfim sento aliviada e constrangida. Me ajeito prendendo o cinto e literalmente voo. Relaxo tranquila pensando que o pior já passou... Até vir o refrigerante, que num ato indeterminado faço voar para todos os lados. Queria que o avião pegasse fogo e explodisse em um segundo, que despencasse em espirais para que todos os copos virassem, não apenas o meu. Meu Deus! O alvo das atenções, não consigo passar despercebida nunca! Sou um atalho entre o choro e a risada... Entre o suicídio e a piada. Se afasta daqui, seca dali, em minutos que parecem horas de interminável perdão. Já quieta melada e envergonhada, tenho medo de respirar. Não me arrisco a querer nada, morrendo de sede. Fecho os olhos e me escondo dos fatos, dos atos, dos atropelos morrendo de vontade fazer xixi. Não ouso me mexer. As vezes tenho medo de mim... Sou a última a descer
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