... É só clicar no titulo do Blog, ( Em casa de poeta, o importante é sonhar!) que ele disponibiliza todo o conteúdo. Eu, acho que vale a pena. Acho também que a troca seria perfeita se deixassem um comentário, eu adoraria! Mara Araujo





quarta-feira, 23 de julho de 2008


Paralelas


Sinto que não posso parar pensar. Me abstenho e saio empurrando pensamentos e lembranças para um canto qualquer da casa. Sinto que por traz da pele da carne do meu rosto existe uma ardência que inflama, algo que sobe como lágrimas, e as empurro para longe dos olhos, não sei para onde. Os dias vão correndo e fico parada nessa eterna e enfadonha expectativa de algo que vai acontecer, mas não sei o que é. Meu rosto esta duro e frio, sem expressões. Minhas impressões são de caos existencial, substancial de feridas e dores. Tentativas de interpretações que só me levam ao nada. Dores nas juntas, nos ossos e essa flacidez absurdamente plácida. Estou só como um fantasma numa casa vazia que vaga por entre os cómodos, procurando um passado que é outro presente. Que já anda em outras ruas sorrindo, virando natais e tendo bebes. Enjoo... Saio a janela e o cheiro de hortelã invade o ar. Na esquina um homem caído, deitado na calçada pede ajuda, diz que sente dores. Vira e revira na calçada, as pessoas passam e olham. Sinto ímpetos de ir ajudar, mas sinto medo e continuo imóvel, estática, pensando se fosse eu... Mas não é, é o homem estranho que diz que sente dores. Também sinto, mas não me deito na calçada. Me deito escondida atrás das paredes velhas e amareladas da casa fantasma que sabe que vou me embora, num dia destes qualquer. a ambulância chegou, cores vermelho e amarelo. Vermelho de sangue, amarelo de desespero. Vão levar o homem deitado com dores, na calçada em frente a padaria da esquina. Parece um despacho de encruzilhada de vidas, ruas e dores. Continuo na janela olhando para os três policiais que o examinam, colocam na maca, amarram enquanto o meu rosto se infla novamente e arde Lágrimas que teimam em sair dos meus olhos mas as engulo doído. Fica um nó na garganta parado, não vou chorar e penso... Vou me deitar na calçada da esquina e dizer que sinto dores, para que me peguem e cuidem de mim. Saio da janela, deito na cama pego a caneta e escrevo que estou fraca e insegura, perdida, com medo e só, de solidão intima, sólida e tempestuosa. Levanto bebo um liquido adocicado e ascendo um cigarro. Vou ao banheiro, continuo escrevendo numa compulsão que não consigo controlar. Olho ao redor, prateleiras com roupas calçados e algumas porcarias que carrego a anos e que perderam a utilidade. O dia esta cinzento, e na minha coxa uma mancha roxa de uma batida qualquer. Saio do banheiro arrumando a calcinha, continuo escrevendo e tentando engolir o nó na garganta. Bebo agua e espero chegar a noite para dormir. Sinto que não posso pensar, e empurro meus pensamentos, saudades e lembranças para um canto qualquer, e absorvo o dia... o nada subsequente!

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