Sentimentos
Acordei meio sórdida hoje e cheia de uma falsa moral como defesa, e desejos de posse. De possuir tudo! Qualquer coisa que eu queira, e acho que quero muito! Não estou nem alegre nem triste, sinto que hoje não tenho peso, não existo e estou má! Alheia a qualquer coisa absoluta, que não seja eu. Eu, eu, eu que me esgoto de mim, que me canso e já não me basto mais, que me acabo, me destruo. Eu que falo, falo, falo e acabo nunca dizendo nada ou, é sempre a mesma coisa, a mesma cantilena, os mesmos erros, as mesmas vontades, o mesmo lugar-comum. Eu que quero me destituir, me atirar no fundo de um precipício, que me prendo a laços, a pesadas correntes e desejo me matar primeiro antes de ser devorada, por lobos que uivam nas minhas entranhas. Que escorro líquida e quente pelos cantos da casa tentando me afogar. Que vivo trepada nos muros das ondas salgadas, cheia de moluscos sargaço e algas, agarrados a pele, que tento arrancar meio escorregadia. Que me escondo em baixo das cobertas encolhida, fugindo de mim, que vejo coisas, assombrações me perseguem, cheias de dedos e ossos, e sorriem pra mim. Que às vezes nem sei quem sou, me procuro e pareço bicho, dentro dessa multiplicidade que me habita, cheia de ruídos e coisas, cheia de historias. Eu que tenho reações adversas e estranhas a mim. Sintomas complexos, mais agudos, mais encorpados, até mais atrapalhados. É... hoje, acordei meio sórdida, meio azul... Hoje me mato, me enforco, e a noite, saio por ai, rarefeita como fantasma, dando risada e vazão, a toda sordidez, a todo o deboche, arrancando varais e chutando latas de lixo, comprando uma porção de briga nas ruas, bebendo um conhaque barato, um crime talvez... Mais recapada, mais livre
Acordei meio sórdida hoje e cheia de uma falsa moral como defesa, e desejos de posse. De possuir tudo! Qualquer coisa que eu queira, e acho que quero muito! Não estou nem alegre nem triste, sinto que hoje não tenho peso, não existo e estou má! Alheia a qualquer coisa absoluta, que não seja eu. Eu, eu, eu que me esgoto de mim, que me canso e já não me basto mais, que me acabo, me destruo. Eu que falo, falo, falo e acabo nunca dizendo nada ou, é sempre a mesma coisa, a mesma cantilena, os mesmos erros, as mesmas vontades, o mesmo lugar-comum. Eu que quero me destituir, me atirar no fundo de um precipício, que me prendo a laços, a pesadas correntes e desejo me matar primeiro antes de ser devorada, por lobos que uivam nas minhas entranhas. Que escorro líquida e quente pelos cantos da casa tentando me afogar. Que vivo trepada nos muros das ondas salgadas, cheia de moluscos sargaço e algas, agarrados a pele, que tento arrancar meio escorregadia. Que me escondo em baixo das cobertas encolhida, fugindo de mim, que vejo coisas, assombrações me perseguem, cheias de dedos e ossos, e sorriem pra mim. Que às vezes nem sei quem sou, me procuro e pareço bicho, dentro dessa multiplicidade que me habita, cheia de ruídos e coisas, cheia de historias. Eu que tenho reações adversas e estranhas a mim. Sintomas complexos, mais agudos, mais encorpados, até mais atrapalhados. É... hoje, acordei meio sórdida, meio azul... Hoje me mato, me enforco, e a noite, saio por ai, rarefeita como fantasma, dando risada e vazão, a toda sordidez, a todo o deboche, arrancando varais e chutando latas de lixo, comprando uma porção de briga nas ruas, bebendo um conhaque barato, um crime talvez... Mais recapada, mais livre
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